10 fevereiro, 2008

Menina de Ouro - Million Dollar Baby

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Tamanho: 1,4 Giga
Formato: DvdRip
Idioma: Português
Qualidade de Video: 10
Qualidade de Audio: 10




»
Direção:
Clint Eastwood
» Roteiro: Paul Haggis, F.X. Toole
» Gênero: Drama
» Origem: Estados Unidos
» Duração: 137 minutos
» Tipo: Longa
» Trailer: clique aqui
» Site: clique aqui
» Sinopse: Frankie Dunn é um treinador de boxe que já conquistou vários títulos. É quando aparece em sua academia Maggie Fitzgerald. O problema é que Frankie nunca aceitou ser o treinador de mulher alguma. O relacionamento de ambos vai crescendo, enquanto Maggie trabalha duro para se sustentar e ajudar sua família. Após muito esforço ela consegue com que Frankie seja seu treinador. Os dois juntos conseguem muitas vitórias, Maggie se torna uma ótima lutadora, até que um acontecimento muda definitivamente o destino dessas duas pessoas. Vencedor de 4 Oscar: Melhor Ator Coadjuvante (Morgan Freeman), Melhor Atriz (Hilary Swank), Melhor Diretor (Clint Eastwood) e Melhor Filme.


» Elenco :
- Ator/Atriz Personagem
- Morgan Freeman/ Eddie Scrap-Iron Dupris
- Riki Lindhome/ Mardell Fitzgerald
- Margo Martindale/ Earline Fitzgerald
- Anthony Mackie/ Shawrelle Berry
- Lucia Rijker/ Billie
- Mike Colter/ Willie
- Jay Baruchel/ Danger Barch
- Clint Eastwood/ Frankie Dunn
- Hilary Swank/ Maggie Fitzgerald
- Michael Peña/ Omar






MENINA DE OURO de Clint Eastwood
Se nos deixa completamente arrasados no final, derramando genuíno chororô por muito tempo após as luzes se acenderem, é porque, assim como Eastwood, nós apreciamos a jornada. É um clássico no sentido que lança o espectador num transe por duas horas, como poucos filmes ainda conseguem fazer.
Bernardo Krivochein (Rio)


"Menina de ouro" é um clássico, no sentido que o filme tem classe. Muito se critica o cinema atual pela falta de inovação de idéias, de renovação estética e narrativa. Isso na realidade é mais resultado da fadiga do excesso de ofertas (i.e. filmes) realizadas de maneira insatisfatória (i.e. diretores pilantras). Ninguém nunca sublinha que fazer cinema clássico narrativo é difícil pacas, é como conduzir uma ópera ou como tocar uma peça de piano: uma nota errada, danou-se tudo. Clint Eastwood sabe disso. O resultado é um filme impecável, tocado de maneira infalível. Não há nada de novo em "Menina de Ouro" (baseado no conto "Rope Burns" de F.X. Toole), mas tudo mostrado causa o mesmo impacto, senão maior até, do que quando você viu pela primeira vez.

Todos os personagens em "Menina de ouro" são esportistas emocionalmente aleijados. Todos são apenas traços das pessoas que um dia já foram e o boxe serve tanto como o cenário para a história se desenvolver como uma permanente analogia da constante batalha de seus personagens. Frankie Dunn (Eastwood) é conhecido por ser um excelente treinador e sparring, cujo talento de motivar e curar rapidamente feridas alheias ele não consegue utilizar em si mesmo. A única coisa que o sujeito sabe fazer é defender-se e atacar: sua religiosidade, face às decepções que sofreu na sua vida, faz de vítima o pobre padre da paróquia, ao qual Dunn sempre experimenta seus jabs existenciais. A academia de boxe da qual se tornou dono quase que acidentalmente tem como zelador o leal mas opinativo Eddie Dupris (Morgan Freeman), um boxeador aposentado com uma triste história em torno de seu olho cego. Freeman, magnífico, funciona como o narrador da história e, transmitindo uma enorme carga emocional nessa função, ele cumpre o papel de expor o coração de Dunn para a platéia. É com felicidade que podemos ver Freeman, após uma interminável série de papéis de detetive brilhante em filmes comerciais, no topo de sua forma.

Intromete-se na vida de Dunn a boxeadora amadora Maggie Fitzgerald (Hillary Swank), a princípio uma caipira de ambições altas, rejeitada a todo custo por Dunn, simplesmente porque ele se recusa a treinar garotas. Ela, insistentemente, tenta a todo o custo ser apadrinhada por Dunn que, inscrevendo-se em sua academia, acaba chamando a atenção do braço direito dele, Dupris. Quando Dunn é largado por seu pupilo, ele sente novamente o gosto do abandono e, mais para ocupar-se e tirar Fitzgerald de seu pé, aceita treiná-la. A personagem de Swank é típica nesse tipo de filme, a adorável, porém derrotada mulher cujos sonhos grandiosos fazem o contrapeso com sua realidade pobre. Aparentemente carente, a personagem é muito mais do que ela aparenta e tanto Eastwood quanto Swank querem sair do lugar comum ao mostrá-la. Não há nenhum momento em que Swank é mostrada como sexy ou uma caricatura cômica, mas alguém determinada, baseada em sua paixão e ética de trabalho. O modo como a personagem cresce, tanto física quanto emocionalmente, salta aos olhos, num tipo de papel convencionalmente masculino. A atuação de Swank aqui é inspiradora e, conseqüentemente, destruidora.

Como já disse, o boxe é mais um pano de fundo para que o relacionamento se desenvolva, mas que isso não signifique que o seu papel seja irrelevante na história. As lutas no ringue são cruas e violentas, sem xarope, dando a platéia a mesma respeitabilidade para o esporte que para Dunn. Há um grande número de personagens paralelos e seus trejeitos (o boxeador convencido, o palhaço etc.) com quem os principais nunca se envolvem, assim evitando um discurso típico de um filme qualquer do gênero. Eastwood mantém uma aura soturna em "Menina de Ouro", que o dirige sempre a caminho das sombras da história. Isso fortalece a emoção do filme, que quando é triste é devastador e edificante quando é inspirador. Quando algo cômico acontece, então é um raio de sol num céu nublado. Ao que caminhamos para o último ato da história, vamos nos agarrar a esses pequenos momentos de leveza da história, porque Eastwood vai exigir e testar o máximo da boa natureza do espectador.

Muito se compara o filme a "Rocky" (eu caí na armadilha de tentar compará-lo ao independente "Girlfight") pela natureza esportista de ambos os filmes, mas ambos são clássicos por méritos diferentes. No final do dia, o filme de Eastwood é um drama soturno realizado praticamente a perfeição. "Menina de ouro" mais do que falar sobre os obstáculos eternos no caminho dos sonhos, é um atestado de Eastwood, valorizando a vida não pelo automatismo dos pulmões, mas pelas experiências que colecionamos. Tanto quanto o personagem que interpreta, Eastwood, em idade sênior, chega com tudo aquilo que viveu e parece abraçar o que o futuro inevitavelmente o reserva com enorme paixão e nenhum ressentimento. É a própria maturidade em celulóide, quando vemos que a fotografia do filme é completamente trabalhada em cima dos altos contrastes entre luz e sombra (especialmente sombra), mas nunca de modo agressivo. Eastwood compreende que claridade e escuridão acompanham-se, completam-se. E se "Menina de Ouro" nos deixa completamente arrasados no final, derramando genuíno chororô por muito tempo após as luzes se acenderem, é porque, assim como Eastwood, nós apreciamos a jornada.

É um clássico no sentido que lança o espectador num transe por duas horas, como poucos filmes ainda conseguem fazer.








Um drama envolvente, que trata de um assunto corajoso e acima de tudo, nos faz pensar sobre os rumos que toma.

Em seu trabalho anterior, Clint Eastwood já apostava muito mais no drama do que em uma ação ou suspense consistente para fazer um bom filme. Com Sobre Meninos e Lobos, o diretor deu mais um passo no seu já alto padrão de qualidade, trabalhando excelentemente bem o sentimento de culpa entre ex-grandes amigos. Menina de Ouro, seu mais novo projeto, recebeu nada mais nada menos do que sete indicações ao Oscar, além de faturar dois importantes Globos de Ouro (direção para Clint Eastwood e atriz para Hilary Swank). Se é ou não tão bom quanto Os Imperdoáveis, só o tempo vai poder dizer. Mas que é uma obra riquíssima e cheia de detalhes percebidos aos poucos, isso não há dúvidas.

Frank Dunn (Clint Eastwood) é um velho amargurado e fechado, principalmente depois que sua filha o deixou e nunca mais deu notícias. Mantém uma academia de boxe, que ele tem plena consciência de que só traz prejuízos. A única pessoa com quem Frank ainda mantém uma boa relação é Scrap (Morgan Freeman), um ex-boxeador que ele treinara. Scrap perdera o olho direito em um combate onde deveria ter desistido alguns assaltos mais cedo, e Frank sente-se culpado por isso. Ele estava na equipe e nada fizera para impedir que seu amigo ficasse em sua atual condição. Apesar de ser um excelente profissional, Frank nunca emplacou um sucesso por sempre preparar demais os seus lutadores, e não marcar lutas mais ousadas para eles, deixando-os no forno tempo demais.

Em um desses momentos de solidão, sem ninguém para treinar, aparece na sua vida Maggie Fitzgerald (Hilary Swank), uma garçonete de trinta e um anos que tem a certeza de que, se for bem treinada, poderá ser uma grande campeã dos ringues. Ela consegue, a muito custo, convencer o durão Frank a treiná-la, já que este sempre deixa bem claro que não treinava mulheres e a achava velha para começar agora. Os resultados vem rápido e parece que Frank tem uma nova pedra preciosa em mãos, que, se bem polida, pode lhe dar muito mais frutos do que seus pupilos anteriores.

Apesar de contar com excelentes seqüências de boxe, é bom deixar claro que este filme é um drama - dos pesados, por sinal. Os rancores e desilusões de Frank são a todo momento jogados na tela, deixando o ritmo bem lento e desenvolvido. A vontade de Maggie conquista e sempre faz a tela brilhar, exceto quando ela está fora dos quatro corners. Sua vida é tão conturbada que a vontade que ela tem de ser alguém melhor convence. Problemas com a família, que dá valor só ao dinheiro que ela conquista com suas lutas, sem ligar para as conseqüências físicas que um combate de boxe pode trazer, incitam péssimas repercussões pessoais para a lutadora.

É bom você ir assistir Menina de Ouro tendo em mente que o boxe só está lá para dar um charme a mais ao drama dos personagens. As lutas empolgam devido à excelente condução de Eastwood, nos deixando assistir sempre ao que está acontecendo, sem inserir um ritmo frenético na edição - o erro de grande parte das produções que tentam aumentar a adrenalina do público. Durante os diálogos, o diretor também não tenta ser mais importante do que está sendo dito, usando o simples para elevar o conteúdo do que os personagens estão vivendo.

É importante dizer que, mesmo que o filme tenha um ritmo mais lento para desenvolver os seus personagens durante boa parte do filme, o ritmo nos últimos trinta, quarenta minutos finais fica ainda mais devagar. Os personagens se encontram em uma difícil situação e, para que ela convença bem, esse ritmo se torna extremamente necessário. Ou seja, ele funciona na tela, mas é necessário que estejamos preparados para esta mudança. Como disse, e vou fazer questão de frisar a todo momento, o filme é um drama profundo, e não um conglomerado de cenas de ação.

É justamente nesses momentos finais que Menina de Ouro se revela ainda mais profundo e com um tema a ser discutido. Não se deixando levar pela política correta barata de Hollywood, Clint Eastwood coloca um final extremamente polêmico em seu filme, que com certeza ainda será alvo de muita discussão por aí. É algo que levanta um profundo questionamento moral da condição humana, que fecha com chave de ouro todo o conteúdo apresentado anteriormente. É um filme de como mágoas de ações passadas podem influenciar no presente. É um filme sobre decisões. É um filme sobre contrariar aquilo que parece correto, por algo maior e melhor.

Se o roteiro já não fizesse milagres, criando frases inteligentes, com conteúdo e balanceando bem o humor com personagens extremamente carismáticos, tudo poderia ir pelo ralo se fosse mal interpretado e dirigido. Clint Eastwood, como já foi dito, fez um trabalho primoroso na direção, de escolhas ousadas, e tem tudo para estragar a festa de Martin Scorsese esse ano. Na parte interpretativa, ele não fica atrás. Com o seu mau humor, provindo de um rancor interno, Eastwood faz um trabalho tão brilhante que, ao invés de criar antipatia por todo o mau humor e frases ditas na hora errada, ele nos aproxima de sua dor. É como se sentíssemos pena por Frank estar onde está, não raiva pelas suas atitudes com os outros, e torcêssemos pelo seu sucesso.

Repetindo a parceria criada em Os Imperdoáveis, Morgan Freeman faz uma brilhante interpretação com Scrap, talvez o único amigo real de Frank. Assim como todos os outros personagens do filme, ele tem um profundo background, trabalhado de modo que nos faz simpatizar pela sua simples e pobre vida. Até mesmo algumas atitudes, que poderiam ser consideradas traição de Scrap com Frank, são vistas por outros olhos. Esse é o brilhantismo do filme bem interpretado. O simples trazendo algo profundo e complexo. Aparentemente, nem a interpretação de Freeman como a de Eastwood parecem trazer algo novo, porém são justamente elas que contra balanceiam toda a dor e sofrimento dos personagens.

Agora a estrela mesmo é Hilary Swank. Depois de vencer o Oscar por Meninos Não Choram, a atriz parece estar no caminho de se tornar bi campeã - que me perdoem o trocadilho. Lindíssima, com um belo corpo, seu grande mérito é justamente não fazer com que sua aparência a destaque do cenário caótico onde a história é ambientada. Existem filmes onde a beleza de uma atriz a deixa totalmente fora do contexto, nos lembrando que aquilo é apenas um filme a todo segundo. Mas o trabalho de Hilary é tão intenso que fica impossível não acreditar no que estamos vendo. Com um trabalho físico primoroso, a atriz aprendeu a golpear e, com isso, suas lutas se tornam muito mais verossímeis na tela.

O reflexo de uma boa preparação não está apenas no ringue. Sua personagem tem uma forte determinação, que Hilary transporta para suas expressões de maneira bastante significativa. A cena em que ela tem o seu primeiro treinamento é fantástica. Ao mesmo tempo que se mostra determinada, transmite uma felicidade incontida por estar dando o primeiro passo para a realização de um sonho. Durante os combates, o seu modo de bater e as reações aos ferimentos parecem já garantir a bela interpretação da atriz. Só que havia mais.

No final, quando o filme dá uma grande reviravolta em seu ritmo, é onde ela é mais exigida. Com uma sensibilidade invejável, faz um perfeito dueto com Eastwood, a cada momento que o drama de sua personagem cresce gradativamente. É chocante ver a expressão de dor nos olhos da menina, o que vai levar, sem sombra de dúvidas, muitas pessoas às lágrimas. Só que o filme não busca isso. Ele não tenta, a todo momento, emocionar o público, graças a ótima preparação da situação anterior. O filme deixa que a emoção seja o resultado do trabalho, e não sua meta. Isso tudo acontece porque estamos dentro do drama da personagem, e não vivendo sua adrenalina.

Há apenas mais um quesito técnico que não deve ser deixado de lado: a narração. Usada quase sempre apenas para poupar cenas desnecessárias para o bom entendimento da história, aqui ela tem uma importância surpreendente maior, ao fechar com chave de ouro o excelente texto nela contida. Se tudo já é sensível e bem estruturado, ela não fica atrás e se torna um presente para aqueles que estavam acompanhando atentos aquilo que Scrap dizia durante toda a projeção.

Comparações com Rocky - Um Lutador são inevitáveis. Há quase 30 anos, Sylvester Stallone conquistava a Academia com seu personagem carismático, que tem a oportunidade de mudar a vida do nada. Só que Menina de Ouro, apesar de ter o mesmo background sombrio e também se preocupar com a construção do personagem, se concentra em um outro tema, que é o rancor, e não suas determinações (apesar de Maggie ser uma moça extremamente determinada, assim como Balboa). Não há um tema tão marcante quanto a música que envolve Rocky, mas Eastwood opta por trilhas bem mais leves, instrumentais tristes e lentos. Para se ter uma idéia, são músicas comparáveis à da abertura de Os Imperdoáveis.

Com uma poderosa preparação de personagens, Menina de Ouro se torna um dos grandes favoritos ao Oscar de 2005. Clint Eastwood constrói uma obra-prima através de um roteiro consistente, que trabalha a fundo seus personagens. Concentra-se sempre no que é interessante e marcante, e não apenas passageiro. Com algumas excelentes lutas para temperar ainda mais o seu prato final, o jeito é levar lenços e mais lenços para o cinema para não ter que deixar a manga da camisa ou o ombro do namorado encharcados depois.


Por Rodrigo Cunha
26/02/2005


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